quinta-feira, 8 de março de 2012

08 de Março

"Silêncio enquanto dou voz a este corpo!
Nasci nua, mas logo que perceberam uma pequena abertura entre minhas pernas vestiram-me de opressões e perseguições, me modelaram conforme o ritual, a moral e a economia exigiam: submissa, proibida, inferior, culpada… culpada… culpada…
Assim batizaram minha vagina e a extensão deste corpo.
Assim educaram este corpo para servir e reproduzir a educação do servir.
Assim esqueceram este corpo na construção das leis.
Assim desenharam este corpo sempre em pedaços de acordo com os objetivos da propaganda: princesa, bruxa, puta, esposa, mãe, criminosa.
Assim a expressão do que este corpo deseja e rejeita realizou-se clandestinamente durante muito tempo… clandestinamente… clandestinamente…
Foi assim, arrancando da pele marcas de injustiças, violências e castrações, caminhando capenga com o peso do mundo dos homens em minhas costas, ventre, mente, passos… que então me rebelei arrombando a porta de um destino mal fabricado, queimando as folhas dos contos dos fodas.
Experimentei o conhecimento, o prazer da luta.
Criei novas palavras para nomear o que quero e do que sou capaz e hoje grito:
Meu corpo é meu território!"
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Texto construído coletivamente e interpretado na abertura da vigília organizada pelo Fórum Cearense de Mulheres, no Dia Internacional de Luta pelo fim da violência contra as mulheres [25/11] em Fortaleza."



Hoje não é dia de receber flores que remetem a uma fragilidade que não existe. É dia de reflexão.
Que a luta daquelas mulheres que morreram queimadas lutando pela liberdade no dia 8 de março de 1857 não tenha sido em vão...
Parabéns a todas que lutam contra essas vestimentas impostas por uma sociedade machista e aos homens que respeitam e valorizam as mulheres.