sábado, 25 de junho de 2011

Clarice Lispector por Caio Fernando Abreu

Clarice Lispector
Eu gosto de Clarice desde 2002, quando entrei na faculdade e recentemente (coisa de um ano e meio) tenho lido bastante a obra de Caio. 
Tenho observado que muitas pessoas tem os dois como seus escritores preferidos e acredito que seja porque eles têm diversos pontos em comum e ultimamente viraram "modinha" graças as redes sociais, né?! 
Muitos se questionam quantas dessas pessoas já leram nem que seja uma página desses autores que eles tanto amam, mas isso para mim pouco importa. Não sou pseudo intelectual e nem faço ar blasè para esse fenômeno. Pelo contrário, até me aproveito disso para falar sobre os dois escritores em sala de aula (pra quem não sabe, sou professora, hehe!) e também discuto em rodas com amigos que não são do meio sobre os dois...
 É nítido que Caio foi influenciado, mas o que o diferencia dos outros escritores "clariceanos" é o fato dele realmente sentir o que escrevia, pois também era denso e pesado como ela.  Para mim, é interessante notar pontos em comuns entre os dois e estes dois textos abaixo relatam as impressões de Caio Fernando Abreu sobre Clarice,  no dia em que se viram pela primeira vez e de que maneira os livros dela agiam sobre ele:



Caio Fernando Abreu
"Em 1971, li um dia no jornal que ela estava em Porto Alegre pra dar uma entrevista na TV e que depois ia autografar seus livros. Peguei todos os livros que tinha da Clarice e corri para o estúdio. Deparei, então, com uma mulher linda, enigmática, silenciosa. Aquela gente toda em torno dela e ela absolutamente quieta, sentada em uma cadeira com aquelas unhas vermelhas. Não tive coragem de me aproximar e a fiquei olhando a distância. De repente, ela me chamou e, com aquela voz cheia de erres presos, me disse: ‘Você senta comigo. Você se parece com dom Quixote e deve ficar ao meu lado, porque eu estou muito assustada”... Pouco tempo depois, viajei ao Rio de Janeiro para o lançamento de Limite branco. Assim que cheguei ao hotel, telefonei para ela. ‘Eu quero ser a madrinha dessa noite’, ela me disse. Apareceu na livraria toda de preto e ficou a nlite toda sentada ao meu lado, em silêncio absoluto. De vez em quando, ela se voltava para mim e, com aquela voz rouca, sussurrava: ‘Você é o Quixote! Você é o Quixote! Nessa época Clarice estava escrevendo Água viva. Nos dias seguintes, ela me telefonou várias vezes me convidando para visitá-la em seu apartamento. Quando eu chegava na portaria, o porteiro dizia: ‘Dona Clarice não está’. Ela estava em casa, mas deixava o porteiro com essa ordem de barrar as visitas e se esquecia de mim... Clarice não gostava muito de viajar. Mas um dia, numa visita a Porto Alegre para um encontro literário, ela me telefonou. ‘Quixote, estou aqui’,  me disse. ‘Venha me levar a algum lugar diferente, porque eu não gosto de escritores’. Fomos, então, caminhar pela Rua da Praia. Em um bar, pedimos um café, que foi servido no copo. ‘Numa xícara, por favor’, ela pediu. O rapaz, paciente, fez a troca. Ela tomou o café em absoluto silêncio. Pensei que estivesse aborrecida. De repente, ela me perguntou: ‘Como é mesmo o nome dessa cidade?’. Clarice já estava em Porto Alegre há três dias! Mas isso não importava, ela habitava mesmo o planeta Lispector... Chegou uma hora que em que eu me proibi de ler Clarice Lispector. Seus livros me provocavam a sensação de que tudo já foi escrito, de que nada há mais a dizer. Eu não suporto mais ler as ficções de Clarice. Claro que, às vezes, leio escondido de mim mesmo. Mas elas me perturbam muito”.
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/1995 


Ele também fala de Clarice em uma carta escrita para a escritora Hilda Hilst:




Hilda Hilst


Hildinha,  9/12/1970
A  carta para você já estava escrita, mas aconteceu agora de noite um negócio tão genial que vou escrever mais um pouco. Depois que escrevi para você fui ler o jornal de hoje: havia uma notícia dizendo que Clarice Lispector estaria autografando seus livros numa televisão, à noite. Jantei e saí ventando. Cheguei lá timidíssimo, lógico. Vi uma mulher linda e estranhíssima num canto, toda de preto, com um clima de tristeza e santidade ao mesmo tempo, absolutamente incrível. Era ela. Me aproximei, dei os livros para ela autografar e entreguei o meu Inventário. Ia saindo quando um dos escritores vagamente bichona que paparicava em torno dela inventou de me conhecer e apresentar. Ela sorriu novamente e eu fiquei por ali olhando. De repente fiquei supernervoso e sai para o corredor. Ia indo embora quando (veja que GLÓRIA) ela saiu na porta e me chamou: - “Fica comigo.” Fiquei. Conversamos um pouco. De repente ela me olhou e disse que me achava muito bonito, parecido com Cristo. Tive 33 orgasmos consecutivos. Depois falamos sobre Nélida (que está nos States) e você. Falei que havia recebido teu livro hoje, e ela disse que tinha muita vontade de ler, porque a Nélida havia falado entusiasticamente sobre Lázaro. Aí, como eu tinha aquele outro exemplar que você me mandou na bolsa, resolvi dar a ela. Disse que vai ler com carinho. Por fim me deu o endereço e telefone dela no Rio, pedindo que eu a procurasse agora quando for. Saí de lá meio bobo com tudo, ainda estou numa espécie de transe, acho que nem vou conseguir dormir. Ela é demais estranha. Sua mão direita está toda queimada, ficaram apenas dois pedaços do médio e do indicador, os outros não têm unhas. Uma coisa dolorosa. Tem manchas de queimadura por todo o corpo, menos no rosto, onde fez plástica. Perdeu todo o cabelo no incêndio: usa uma peruca de um loiro escuro. Ela é exatamente como os seus livros: transmite uma sensação estranha, de uma sabedoria e uma amargura impressionantes. É lenta e quase não fala. Tem olhos hipnóticos, quase diabólicos. E a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguiria alcançá-la. Muita gente deve achá-la antipaticíssima, mas eu achei linda, profunda, estranha, perigosa. É impossível sentir-se à vontade perto dela, não porque sua presença seja desagradável, mas porque a gente pressente que ela está sempre sabendo exatamente o que se passa ao seu redor. Talvez eu esteja fantasiando, sei lá. Mas a impressão foi fortíssima, nunca ninguém tinha me perturbado tanto. Acho que mesmo que ela não fosse Clarice Lispector eu sentiria a mesma coisa. Por incrível que pareça, voltei de lá com febre e taquicardia. Vê que estranho. Sinto que as coisas vão mudar radicalmente para mim – teu livro e Clarice Lispector num mesmo dia são, fora de dúvida, um presságio. Fico por aqui, já é muito tarde. Um grande beijo do teu
Caio.


Fonte: Livro de cartas organizado por Italo Morriconi




sexta-feira, 24 de junho de 2011

John Lennon e Yoko Ono.



Casal polêmico que eu curto demais e acredito ser um raro encontro de almas gêmeas, um amor capaz de lutar contra tudo e todos. Ela foi acusada de ter destruído os Beatles, quando eles se conheceram John ainda era casado com sua primeira esposa, eles eram de culturas totalmente diferentes e etc e tal, mas ainda assim se fundiram de tal forma que John chegou a dar declarações de que eles eram um só. Ignoraram todas as críticas que receberam e se entregaram a intensidade do amor que sentiam.


Juntos lutaram pela paz, pelos direitos das mulheres, contra a guerra do Vietnã...  E até hoje poucos entendem como uma mulher "feia e antipática", que foge do padrão de beleza adequado a mulher de um ícone conseguiu fisgar Lennon, fazendo com que ele se distanciasse do sucesso, da fama e do glamour para lutar por causas humanitárias. Taí, uma mulher  consegue exercer muita influência na vida de um homem que a ama...


Apesar de todas as adversidades que passaram juntos, eu aplaudo esse amor dos dois, essa sintonia que podemos perceber até nas fotos e toda essa intensidade transformadora...







À Yoko sobraram críticas e críticas...
É, ser mulher não é fácil, ainda mais em uma sociedade machista como a nossa.



segunda-feira, 20 de junho de 2011

Decifra-me



Trago lágrimas, sorrisos, histórias, abraços... trago momentos felizes, momentos de decepção. Carrego pessoas, amores e desamores, amigos e inimigos, desafetos, paixões... Não sou um livro aberto, mas também não tão fechado que você não consiga abrir, basta ter jeito, saber tocar as páginas, uma a uma, e descobrirá de que papel é feito cada uma delas...
[Caio Fernando Abreu]


Caio sempre me decifrando, gente! Quando li esta frase me identifiquei, pois para mim a vida é feita por pequenos momentos que geram emoções que serão lembradas posteriormente. Afinal de contas, só temos saudade do que é bom... é o rastro que a felicidade deixa, né?!

Não posso afirmar se é idealismo ou utopia minha, mas acredito que não preciso de muito para ser feliz... Apenas encontrar pessoas que caibam no meu mundo, nos meus sonhos, que caminhem ao meu lado nos momentos bons e ruins, e que, principalmente, tenham essência para que possam decifrar as histórias do livro da minha vida...

Não to curtindo racionalizar meus sentimentos, pois cheguei à conclusão de que é melhor arrepender-se por ação do que por omissão... Caso contrário acabaremos arrependidos por palavras não ditas e atos não realizados, portanto, jogue-se na vida e leve no final só o que for bom... 

E quer saber?! O que eu mais quero é ser feliz!!!

domingo, 19 de junho de 2011

Marcha das Vadias - Protesto contra Machismo e Violência Sexual





Slutwalk – A Marcha das Vadias foi criado após um representante da polícia do Canadá ter declarado (em uma palestra sobre segurança numa universidade!) que as mulheres deveriam evitar se vestir como vadias para não serem vítimas de estupro. Diante de uma declaração machista como esta, as estudantes decidiram protestar, criando um movimento  organizado na internet, que começou no início de abril com o protesto de Toronto e  se espalhou por várias cidades do mundo: Los Angeles, Chicago, Edmonton, Estocolmo, Amsterdã, Edimburgo e muitas outras. A primeira do Brasil rolou em São Paulo e ontem aconteceram manifestações em Recife, Belo Horizonte e Brasília. 


"Marchamos porque desde muito novas somos ensinadas a sentir culpa e vergonha pela expressão de nossa sexualidade e a temer que homens invadam nossos corpos sem o nosso consentimento; marchamos porque muitas de nós somos responsabilizadas pela possibilidade de sermos estupradas, quando são os homens que deveriam ser ensinados a não estuprar; marchamos porque mulheres lésbicas de vários países sofrem o chamado “estupro corretivo” por parte de homens que se acham no direito de puni-las para corrigir o que consideram um desvio sexual; marchamos porque ontem um pai abusou sexualmente de uma filha, porque hoje um marido violentou a esposa e, nesse momento, várias mulheres e meninas estão tendo seus corpos invadidos por homens aos quais elas não deram permissão para fazê-lo, e todas choramos porque sentimos que não podemos fazer nada por nossas irmãs agredidas e mortas diariamente. Mas podemos."



Enfim, o fato de ser considerada vadia não dá o direito ao homem de estuprar a mulher. Realmente não restam dúvidas de que o distúrbio mental vem da parte do agressor e não das nossas peças de roupas!  Mas quantas vezes já ouvimos: “usando essa sainha e esse decote essa garota ta pedindo para ser estuprada”?

É errado a sociedade dizer "mulher, cuidado para não ser estuprada" em vez de "homem, não estupre", mas ouvimos isso toda hora.  Acho legal tb lembrar do caso da Elisa Samudio. A mídia tentava justificar o ato com informações de que ela era uma garota de programa, que adorava sair com vários jogadores, que fazia flimes pornôs e talz... Como se isso diminuísse o fato dela ter sido morta daquela maneira...  O lance é não culpar/responsabilizar a mulher pelos atos de covardia que ela sofre da sociedade machista.


Exatamente para combater essa cultura que responsabiliza a vítima feminina pela agressão surgiu esse protesto pelo direito das mulheres de se vestir, andar e agir de forma livre. Sim, vamos continuar nos vestindo do jeito que quisermos.  Sempre!!! E isso não é um convite ao estupro!


Sobre a polêmica da escolha do nome:
Historicamente o termo “vadia” carrega uma conotação extremamente negativa, cujo peso recai inteiramente sobre as mulheres, sendo uma séria acusação sobre seu caráter. A intenção por trás da palavra é sempre ferir. O objetivo da marcha é ressignificar o termo “slut”, apropriando-se e mostrando que numa sociedade machista todas somos vadias e vagabundas:


"Marchamos para dizer que não aceitaremos palavras e ações utilizadas para nos agredir enquanto mulheres. Se, na nossa sociedade machista, algumas são consideradas vadias, TODAS NÓS SOMOS VADIAS. E somos todas santas, e somos todas fortes, e somos todas livres! Somos livres de rótulos, de estereótipos e de qualquer tentativa de opressão masculina à nossa vida, à nossa sexualidade e aos nossos corpos. Estar no comando de nossa vida sexual não significa que estamos nos abrindo para uma expectativa de violência, e por isso somos solidárias a todas as mulheres estupradas em qualquer circunstância, porque foram agredidas e humilhadas, tiveram sua dignidade destroçada e muitas vezes foram culpadas por isso. O direito a uma vida livre de violência é um dos direitos mais básicos de toda mulher, e é pela garantia desse direito fundamental que marchamos hoje e marcharemos até que todas sejamos livres".







Portanto, termo vadia pode ser usado de uma maneira que foge da proposta, com ar pejorativo e/ ou depreciativo, mas a intenção é mostrar que as mulheres são livres para terem o comportamento que quiserem. Poderiam chamar de Marcha das Mulheres Livres, mas não teria tanto impacto na mídia. É a expressão VADIA que choca e chama atenção da sociedade.
Pense nisso!




Quer saber mais??? Acesse: 


Território Coletivo
Marcha das Vadias - DF
Centro de Mídia Independente




OBS: Todas as fotos que ilustram esse post foram retiradas de sites na internet.