quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Todas as Mulheres Negras, de todos os Homens Negros

Eldridge Cleaver, em Alma no Exílio
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Rainha-Mãe-Filha da África
Irmã de minha alma
Noiva Negra da Minha Paixão
Meu Amor Eterno
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Eu te saúdo, minha Rainha, não com a lamúria servil de um Escravo submisso à qual já te acostumaste, nem com a nova voz, as súplicas oleosas da lustrosa Burguesia Negra, nem com os gritos cruéis do grosseiro Escravo Livre – mas com minha própria voz, a voz do Homem Negro. E embora te saúde de outra maneira, minha saudação não é nova, mas tão velha quanto o Sol, a Lua e as Estrelas. E, ao invés de marcar um novo princípio, significa apenas a minha Volta.
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Eu regressei dos mortos. E te falo neste momento do Aqui e Agora. Eu estava morto há quatrocentos anos. Durante quatrocentos anos tu tens sido uma mulher solitária, despojada do teu homem, uma mulher sem homem. Durante quatrocentos anos não fui nem teu homem nem meu próprio homem. O homem branco ficou entre nós, sobre nós, à nossa volta. O homem branco foi o teu homem e o meu homem. Não te esqueças desta verdade, minha Rainha, pois mesmo que ela tenha incendiado a medula de nossos ossos e diluído nosso sangue, precisamos trazê-la à superfície da mente, ao domínio do conhecimento, fixando nosso olhar sobre ela como uma serpente enroscada nas barras do cercado de brincar de um bebê, ou como as flores frescas sobre o túmulo de uma mãe. Ela deve ser pesada e compreendida no coração, pois o salto da bota do homem branco é o nosso ponto de partida, nosso ponto de Decisão e Volta – o pivô salpicado de sangue do nosso futuro. (Mas eu te pediria para lembrar que, antes que pudéssemos sair da escravidão, tivemos de ser derrubados do nosso trono.)

Do outro lado do abismo estéril da masculinidade negada, de quatro centenas de anos sem minhas Bolas, vemo-nos hoje face a face, minha Rainha. Sinto uma profunda e horrível ferida, a dor da humilhação do guerreiro vencido. A vergonha do corredor exímio que tropeça na partida. Não tenho justificações. Não posso suportar olhar os teus olhos. Tu não sabes (e certamente deve ter percebido gora: quatrocentos anos!) que durante quatrocentos anos fui incapaz de olhar diretamente os teus olhos? Estremeço por dentro sempre que me olhas. Posso sentir... no brilho dos teus olhos, de um lugar escondido bem lá no fundo, um segredo que guardas há muito tempo. Esta é a simples verdade. Não que eu me sentisse justificado, em tais circunstâncias, em tomar tais liberdades contigo, mas quero que saibas que eu tinha medo de olhar nos teus olhos porque sabia que ali encontraria refletida a Denúncia impiedosa da minha impotência e o irresistível desafio de reaver minha masculinidade conquistada.
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Minha Rainha, é difícil para mim dizer-te o que hoje sinto no coração por ti – o que está no coração de todos os meus irmãos negros e de todas as tuas irmãs negras. E tenho medo de fracassar, a não ser que venhas a mim, sintonize-te em mim com a antena do teu amor, o amor sagrado em grau extremo que tu não me pudeste dar porque eu, estando morto, não mereceria recebê-lo; aquele amor de negro, perfeito e radical, com o qual nossos pais floresceram. Deixa-me beber da fonte do rio do teu amor, deixa as cordas da força do teu amor amarrarem minha alma e cicatrizar as feridas da minha Castração, deixa meu exílio convexo terminar sua Odisséia assombrada na tua essência côncava, que recebe aquilo que pode dar. Flor da África, somente através do poder libertador do teu novo amor é que a minha masculinidade poderá ser resgatada. Pois é nos teus olhos, diante de ti, que minha necessidade deve ser justificada. Só, só, só tu e somente tu podes condenar-me ou deixar-me em liberdade.

Convence-te, Irmã Negra, que o passado não é um panorama proibido, algo para o qual não ousamos olhar com medo de sermos, como a esposa de Loth, transformados em estátuas de sal. Pelo contrário, o passado é um espelho onisciente: contemplamo-lo e nele vemos refletidos nós próprios e todos os outros – o que fomos, o que somos hoje, como ficamos desta maneira e o que estamos nos tornando. Negar-se a olhar para o Espelho do Antes, meu coração, é recusar contemplar a face do Agora.
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Eu vivi a sétima vida do gato, encarei Satã e virei as costas a Deus, jantei no chiqueiro dos Porcos, e desci ao ponto mais profundo do Buraco, entrando no Covil e apanhando minhas Bolas de entre os dentes de um leão a rugir!
Beleza Negra, em silêncio impotente eu ouvi, como se fora uma sinfonia de lamentações, os teus gritos de socorro, os apelos angustiados e cheios de pavor que ainda ecoam em todo o Universo e por toda a mente, um milhão de gritos dispersos através dos anos de dor que se fundiram num único som de sofrimento para assombrar e sangrar a alma, um som incandescente para queimar o cérebro e ascender o estopim do pensamento, um som de presas e dentes para comer o coração, um som de fogo se alastrando, um som de gelo que queima, um som de chamas que devoram, um som ardente, um som de fogo para derreter o aço das minhas Bolas. Um som de Fogo Azul, um som Melancólico, um som de morte, um som da minha mulher em pranto, um som do sofrimento da minha mulher, O SOM DA MINHA MULHER CHAMANDO-ME, CHAMANDO-ME, EU OUVI O TEU GRITO DE SOCORRO, OUVO AQUELE SOM AFLITO MAS ABEIXEI A CABEÇA E NÃO DEI ATENÇÃO, OUVI O CHORO DA MINHA MULHER, OUVI O GRITO DA MINHA MULHER, OUVI MINHA MULHER IMPLORAR A PIEDADE DA BESTA POR MIM, OUVI-A IMPLORAR POR MIM, OUVI MINHA MULHER IMPLORAR A PIEDADE DA BESTA POR MIM, OUVI MINHA MULHER MORRER, OUVI O SOM DA TUA MORTE, UM SOM DE ESTALIDO, UM SOM QUEBRADO, UM SOM QUE SOAVA O FINAL, O ÚLTIMO SOM, O DERRADEIRO SOM, O SOM DA MORTE, EU, EU OUVI, EU O OUÇO TODOS OS DIAS, EU O OUÇO AGORA... EU TE OUÇO AGORA...

EU TE OUÇO AGORA... EU TE OUÇO... Eu te ouvi então... o grito veio como um raio fulminante deixando um risco nas minhas costas negras. Num estupor covarde, com o coração palpitando e os joelhos tremendo, vi o chicote da morte do Escravizador cortar zunindo o ar e morder com dentes de fogo a sua carne delicada, a carne negra e macia das Mães Africanas, forçando a Vida a sair prematuramente do seu útero dilacerado e ultrajado, o útero sagrado que originou o primeiro homem, o útero que incubou a Etiópia, populou a Núbia e deu à luz os Faraós do Egito, o útero que pintou de preto o Congo e originou o Zulu, o útero de Méris, o útero do Nilo, do Níger, o útero de Songhay, do Mali, de Gana, o útero que senti o poder de Chaka antes de ele ter visto o Sul, o útero Sagrado, o útero que conheceu a forma futura de Jomo Kenyatta, o útero dos Maus-Maus, o útero dos Negros, o útero que nutriu Toussaint L’Ouverture, que aqueceu Nat Turner, Gabriel Prosser e Denmark Vesey, o útero negro que se entregou em lágrimas àquela corrente anônima e interminável da Nata da África, a Nata Negra da Terra, aquela corrente anônima e interminável que com fortes gemidos caiu no esquecimento do grande abismo, o útero que recebeu, alimentou e sustentou firme a semente e devolveu Sojourner Truth, a Irmã Tubman, Rosa Pparks, Bird e Richard Wright, e suas outras obras de arte que usaram e usam nomes tais como Marcus Garvey, DuBois, Kwane Nkrumah, Paul Robeson, Malcolm X e Robert Williams, e aquele que tu suportaste com sofrimento e que se chamou Elijah Muhammad, mas, acima de tudo, todos aqueles anônimos que eles te arrancaram do útero numa inundação de sangue de assassinatos que se espalhou e se infiltrou na lama. E Patrice Lumumba, Emmet Till e Mack Parker.

Oh, Minha Alma! Tornei-me um covarde lamuriento, um desgraçado medroso, um bajulador vil, com o meu desejo de oposição petrificada diante do temor cósmico do Senhor dos Escravos. Ao invés de instigar os Escravos à rebelião com uma oratória eloqüente, suavizei suas feridas e cantei com eloqüência o Blues. Ao invés de atirar minha vida cheia de desprezo na cara do meu Algoz, derramei o nosso precioso sangue! Quando Nat Turner procurou libertar-me do meu temor, esse mesmo Temor entregou-o ao Carniceiro – um monumento martirizado à minha Emasculação. Meu espírito era sem vontade; e minha carne, fraca. Ah, eterna ignomínia!
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Eu, o Eunuco Negro, despojado de minhas Bolas, caminhei pela terra com a mente trancada num Frigorífico. Eu mataria um homem ou uma mulher negra mais rápido do que esmagaria uma mosca, enquanto colheria para o homem branco milhares de quilos de algodão por dia. Qual o lucro dos esforços cegos e exaltados dos (Culpados!) Eunucos Negros (Justiceiros!) que escondem suas feridas e menosprezam a verdade para mitigar sua culpabilidade através do pálido sofisma de postular uma Democracia Universal de Covardes, assinalando que na história ninguém pode esconder-se, que, se não numa época, então certamente em outra, o salto de ferro do Conquistador esmagou na lama as Bolas de Todos? Memórias do ontem não mitigarão as torrentes de sangue que vertem hoje dos meus culhões. Sim, a História lembra um texto escarlate, com seus rabiscos e pontinhos impressos em vermelho com sangue humano. Mais exércitos do que os mostrados nos livros fincaram bandeiras em solo estrangeiro deixando a Castração no seu rastro. Mas nenhum escravo deve morrer de morte natural. Existe um ponto onde a Cautela termina e a Covardia principia. Enfiem-me uma bala no cérebro com a arma do opressor numa noite de sítio. Por que há dança e cantoria nos Bairros Escravos? Um Escravo que morre por causas naturais não pode se comparar a duas moscas mortas na Escala da Eternidade.

Ao invés de ser pranteado, merece piedade.
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A mulher negra, sem perguntar como, diz apenas que sobrevivemos à nossa marcha e trabalhamos forçados através do Vale da Escravidão, do Sofrimento e da Morte – ali, naquele Vale escondido bem abaixo de nós por uma névoa que se esvai. Ah, que visões, sons e sofrimentos estão por trás daquela névoa! E pensávamos que a dura escalada daquele vale cruel levava a algum lugar agradável, verde, pacífico e ensolarado! Mas aqui tudo é selva, uma região selvagem e bravia que transborda em ruínas.
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Mas coloca tua coroa, Minha Rainha, e construiremos uma Nova Cidade sobre estas ruínas.
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. FIM

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Parada Gay - Rio de Janeiro

Para a Parada Gay domingo no RJ foram gastos R$100 mil, com promessa de aumento para o ano que vem para R$800 mil - valor revelado por Cláudio Nascimento, superintendente dos direitos humanos.


É obvio que o evento atrai turistas e eventos para a cidade, mas quem deveria financiar são os hotéis, restaurantes e o comércio das redondezas... Nada contra meus amigos do arco-íris, mas com tantos problemas nas áreas de educação, segurança e saúde, é justo usar o dinheiro do contribuinte assim?

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Intolerância religiosa

As aulas de Literatura Brasileira sobre o livro Lendas de Exu, de Adilson Martins, se transformaram em batalha religiosa, travada dentro de uma escola pública. A professora Maria Cristina Marques, 48 anos, conta que foi proibida de dar aulas após usar a obra, recomendada pelo Ministério da Educação (MEC). Ela entrou com notícia-crime no Ministério Público, por se sentir vítima de intolerância religiosa.

A polêmica arde na Escola Municipal Pedro Adami, em Macaé, a 192 km do Rio, onde Maria Cristina dá aulas de Literatura Brasileira e Redação. A Secretaria de Educação de lá abriu sindicância e, como não houve acordo entre as partes, encaminhou o caso à Procuradoria-Geral de Macaé, que tem até sexta-feira para emitir parecer. Em nota, a secretaria informou que "a professora envolvida está em seu ambiente de trabalho, lecionando junto aos alunos de sua instituição".

A professora confirmou ontem que voltou a lecionar. "Voltei, mas fui proibida até por mães de alunos, que são evangélicas, de dar aula sobre a África. Algumas disseram que estava usando a religião para fazer magia negra e comercializar os órgãos das crianças. Me acusaram de fazer apologia do diabo!", contou Maria Cristina "há sete anos trabalho na escola e nunca passei por tanta humilhação. Até um provérbio bíblico foi colocado na sala de professores, me acusando de mentirosa". A diretora Mery Lice da Silva Oliveira é evangélica da Igreja Batista.

Leia mais em O Dia Online - Rio.

Acho super importante para o desenvolvimento do homem ter uma religião, independente de qual seja, desde que não comece a virar fanatismo e fazer lavagem cerebral limitando a capacidade de aprender e poder criticar as coisas por si próprio.

Nada contra nenhuma religião, ok?! Só estou propondo uma reflexão: Cadê o respeito ao diferente?
Alé disso, o Estado é laico. E se não é, pelo menos deveria ser, né?!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Dia dos professores!



Sou professora de Lingua Portuguesa, como muitos que acompanham o blog devem saber, né?!
Sei que hoje minha profissão sofre uma desvalorização sem tamanho - aliás, essa crise de valores não existe apenas no esfera escolar - mas mesmo assim sou professora com muito orgulho.

Faço o possível para exercer minha profissão com dignidade, tanto que apesar de militar pela causa e colocar a boca no trombone quando vejo algo errado no meu ambiente de trabalho, ainda consigo conquistar o respeito e o carinho dos meus alunos.

No final o que guardamos da nossa caminhada é o que vale a pena, mesmo que tenhamos horas difíceis - e em alguns momentos pensemos em largar tudo e fazer outra coisa - o que fica é o carinho dos amigos, o reconhecimento dos alunos e a sensação de que procuramos fazer o melhor a cada aula.

Sinceramente, a única coisa que espero é que nossa minha profissão seja mais valorizada e percebida, pois todas as profissões dependem de um professor.


Apesar dos descasos dos políticos com a educação, sou feliz e realizada na profissão.




"Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma, continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra".
Rubem Alves

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A Vantagem acadêmica de Cuba


Minha sugestão de livro deste mês é o título "A vantagem acadêmica de Cuba - Por que seus alunos vão melhor na escola", de Martin Carnoy, em parceria com a Fundação Lemann e publicado no Brasil pelo Grupo Ediouro.

Clique aqui para visitar o site do livro.

A primeira questão levantada é que mais de 50% dos alunos cubanos conseguem resolver problemas complexos de matemática, enquanto apenas 10% dos alunos brasileiros e 15% dos alunos chilenos atingem o nível mais avançado de proficiência matemática, de acordo com o Laboratório Latino-Americano de Avaliação da Qualidade da Educação (Llece), coordenado pela Unesco.

No Brasil, educação e política se misturam mais do que deveriam e a vasta maioria da população continua presa a uma educação que impede seus filhos de atingir todo seu potencial intelectual. Assim, uma educação de baixa qualidade praticamente garante que essas crianças também serão pobres. Será que isso é democrático?

Este livro compara a educação no Brasil (e no Chile) com a educação em outro país latino-americano - Cuba - e tenta entender como uma sociedade com renda per capita menor que a brasileira ou a chilena consegue promover uma educação de muito melhor qualidade para todos os jovens de sua população.

Uma das chaves para o sucesso cubano em educação é o recrutamento, para o magistério, dos melhores alunos do ensino médio e a excelente formação que lhes é dada, ao redor de um sólido currículo. Outra é a garantia de que os alunos são saudáveis e estão bem alimentados. E a terceira é o sistema de tutoria e supervisão dos professores, focada na melhoria da instrução. Mas o elemento crucial é o compromisso total com a melhoria dos padrões de ensino e fazer o que for necessário para que este padrão chegue até as salas de aula do menos vilarejo das regiões mais pobres.

Sabemos que o desempenho do aluno varia muito entre indivíduos, salas de aula, escolas e que as experiências das crianças com suas famílias, principalmente a interação com pais e irmãos, tem efeitos importantes no seu desempenho acadêmico, assim como suas experiências na escola com professores específicos. Só que além destes fatores, as condições sociais e educacionais em defesa destes países fazem diferença.

Um fator interessante observado na pesquisa é que, no Brasil, os ensinos funamental e médio são muito descentralizados, em níveis estadual e municipal. Apesar da reforma do Fundef, os dois sistemas públicos ainda são paralelos, competem por recursos, não são coordenados entre si e possuem administrações distintas. Essa grande variação no gasto por aluno distingue o Brasil dos outros dois países analisados.

No mundo de hoje, a preocupação com a educação deve ser constante e eu não afirmo isso apenas por ser professora. Antigamente, mesmo se a pessoa não concluísse o ensino médio teria a chance de conseguir um emprego que pagava um salário decente. Atualmente, a simples conclusão do ensino médio provavelmente deixa e pessoa próxima da extremidade inferior na hierarquia econômica.

Assim, este livro é sobre a educação em um país - Cuba - onde mesmo os alunos das escolas de ensino fundamental das zonas rurais parecem aprender mais que os alunos das famílias de classe média urbana do rstante da América Latina.

Super recomendo!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Refletindo...

"Fala-se tanto da necessidade de deixar um planeta melhor para os nossos filhos, e às vezes esquece-se da urgência de deixarmos filhos melhores para o nosso planeta." (Autor desconhecido)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

"Bossa Nostra"

"Não me distancio muito de mim
e quando saio não vou longe
fico sempre por perto.
Depende da hora e da cor.
Depende da hora,
da hora, da cor e do cheiro
Cada cor tem o seu cheiro,
cada hora lança sua dor.
E dessa insustentável leveza de ser,
eu gosto mesmo é de vida real."

"Bossa Nostra" - Nação Zumbi

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Educar nos três tempos: passado, presente e futuro

"Eu educo hoje, com os valores que recebi ontem para as pessoas que são o amanhã.

Os valores de ontem, os conheço. Os de hoje, percebo alguns.

Dos de amanhã, não sei. Se só uso os de ontem, não educo: condiciono.

Se só uso os de hoje, não educo: complico.

Se uso os de amanhã, não educo: faço experiências às custas das crianças.

Se uso os três, sofro. Mas educo.

Por isso, educar é perder sempre, sem perder-se.

Educa quem for capaz de fundir ontens, hojes e amanhãs, transformando-so num presente onde o amor e o livre arbítrio sejam as bases.

Educa quemn educará porque é capaz de dotar os seres dos elementos de interpretação dos vários "presentes" que lhe surgirão repletos dos "passados" em seus "futuros". "


Arthur da Távola

Não são do Mário Quintana

POR EMÍLIO PACHECO – TRADUTOR E JORNALISTA
*Estudioso das obras do Poeta Mário Quintana

Atenção: os textos que serão citados abaixo não são de Mario Quintana! Não importa onde você os tenha visto com a autoria atribuída ao poeta.

Vamos começar com os dois mais freqüentes:

"Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra é bobagem. (...) Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação."

Esse já foi declamado por Bruno e Marrone em seus shows e circula pela Internet das mais diversas formas. Existe até uma montagem sobre uma bela foto de dois namorados se beijando. A dificuldade maior em convencer os incautos de que não é de Quintana advém do fato de que o verdadeiro autor ainda não foi descoberto. Provavelmente se originou de algum blog a partir de um amontoado de frases, pois ele contém até mesmo uma citação (não creditada) de Saint-Exupery: "Tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas." Já a frase do olhar e da longa explicação é tida como um provérbio árabe, inclusive aparecendo aqui em inglês. Esse "Frankenstein" vem crescendo e recentemente ganhou mais um apêndice: a observação de que "para o homem provar que é homem, não precisa ter mil mulheres, basta fazer uma feliz".

O outro "campeão" dos blogs e e-mails é aquele que começa assim: "Com o tempo você vai percebendo que, para ser feliz com outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela". E encerra com a afirmação clássica: "O segredo é não correr atrás das borboletas. É cuidar do jardim para que elas venham até você". Ouvi dizer que até camiseta já apareceu no Brique da Redenção contendo essa frase e assinatura de Mario Quintana. Também não se sabe ao certo quem é o autor, mas pelo menos há uma página na Internet em que o poema aparece com a autoria de Kátia Cruz. Já o ditado das borboletas também é atribuído a D.Ehlers. Se é verdade ou não, difícil saber, mas pelo menos já são alternativas de nomes para apresentar a quem perguntar.

Os cinco textos a seguir são de autoria de Martha Medeiros, mas também circulam como se fossem de Quintana:


Felicidade Realista
Promessas Matrimoniais
Sermão do Casamento (também conhecido como "Casamento na Igreja")
Sentir-se Amado
A Impontualidade do Amor


Aqui, é curioso que as pessoas atribuam a Quintana textos em prosa que nada têm a ver com o estilo dele. Talvez por influência de Vinicius de Moraes, existe uma falsa idéia de que todos os poetas de destaque falavam de amor. Quintana até falava, mas muito raramente. Ele tinha a pureza e a castidade de um menino. No entanto, a geração Internet quer imaginar aquele simpático velhinho usando de sua sabedoria para dar conselhos a casais enamorados. Mesmo que, para satisfazer a essa fantasia, coloquem em sua boca palavras como "sarado" (em "Felicidade Realista") e a citação de uma data quatro anos posterior à sua morte (em "Sermão do Casamento"). Martha fez menção a essas confusões mais de uma vez, notadamente em "Clonagem de Textos" e "A Crônica Sobre a Desinformação".

Outro poema muito citado é "A Idade Para Ser Feliz". Seu verdadeiro autor é Geraldo Eustáquio de Souza, como pode ser conferido no link. Já "Amor é Síntese" merece ser reproduzido na íntegra, pois não só sua verdadeira autora é Mirtes Mathias, como o verso final aparece adulterado. Em sua versão apócrifa, o poema termina com a frase: "E eu serei perfeito amor". O correto é:

Por favor, não me analise
Não fique procurando
cada ponto fraco meu
Se ninguém resiste a uma análise
profunda, quanto mais eu!
Ciumenta, exigente, insegura, carente
toda cheia de marcas que a vida deixou:
Veja em cada exigência
um grito de carência,
um pedido de amor!

Amor, amor é síntese,
uma integração de dados:
não há que tirar nem pôr.
Não me corte em fatias,
(ninguém abraça um pedaço),
me envolva todo em seus braços
E eu serei perfeita, amor!

(Do livro "Bom dia amor!", Mirthes Mathias, Juerp, 1990)


Às vezes o verdadeiro autor de um texto ou poema de grande sucesso é um ilustre desconhecido. Ou, para ser mais exato, uma ilustre desconhecida. Um dos mais populares "falsos Quintanas" é aquele que começa: "Não quero que ninguém morra de amor por mim." Sua autora é uma moça chamada Adriana Britto, que pode ser encontrada no Orkut. Já o poema que se tornou conhecido com o nome de "Deficiências" ou "Dicionário do Quintana" é na verdade a parte final de um texto redigido pela professora Renata Vilella, da escola Flor Amarela. As frases da professora ("Deficiente é aquele que não consegue modificar sua vida, etc.") foram rearranjadas em forma de versos e acabaram se tornando um manifesto contra o preconceito.. Hoje a professora luta para ver sua autoria reconhecida. Na seção "Notícias On-line" do site da escola, ela comenta:

Há meses recebi um e mail dizendo que circulava na internet o texto que está escrito na minha apresentação como sendo de autoria de Mário Quintana, não levei a sério, para falar a verdade me senti até honrada, porém quando o senado federal divulgou no folder do Dia Nacional de Valorização da Pessoa com Deficiência escrevi uma mensagem para o Senador Flávio Arns, autor do projeto, pedindo que esclarecesse, mas não obtive resposta. Como o texto foi escrito no final de 1990, quando eu estava indo para o interior de Minas e Mário Quintana ainda era vivo, nem psicografado pode ter sido.

Outros exemplos de apócrifos atribuídos a Quintana, mas de autores desconhecidos:


Algo sobre o amor ("Para meus amigos que estão solteiros... casados... etc.").
Amadurecimento ("Aprenda a gostar de você, a cuidar de você, e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você.")
"Se for para esquentar, que seja no sol, se for para roubar, que seja um beijo, etc."
"Sentir primeiro, pensar depois/ perdoar primeiro, julgar depois, etc."


A cada dia parece surgir um novo texto ou poema falsamente atribuído a Quintana, de forma que é praticamente impossível compilar uma lista completa. Esta foi iniciada por Lúcia Kerr Jóia, depois veio sendo atualizada com a ajuda de vários colaboradores, como Jane Araújo, Westh Ney e outros. Por fim, existe um poema que é, sim, de Quintana, mas aparece na Internet de forma totalmente modificada, a começar pelo título de "O tempo" ou "A vida", ambos errados. Eis o poema correto:

SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente...

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.


Esse é o poema completo, mas os "amantes do óbvio" enxertaram o verso "quando se vê, perdemos o amor da nossa vida" e acrescentaram o seguinte final: "E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz. A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará." Há variações, mas não importa: são adendos indevidos.

O livro "Poesia Completa", da Editora Nova Aguilar, contém toda a obra de Quintana. O que não estiver ali, não é dele. E quando alguém vai avisar a Ana Maria Braga para que deixe de ler no ar poemas enviados por telespectadores? Essa é a melhor maneira de disseminar apócrifos! Depois ela ainda publica os textos no site do programa dela. Os "Quintanas" que estão lá são todos falsos!

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Moda: a divindade moderna

"Andem na moda, claro!

Adotem penteados, pinturas, adereços modernos!

Mas modernizem, antes de qualquer coisa, a sua mentalidade!"

Clarice Lispector


O Oroborus é uma serpente engolindo a própria cauda. A imagem é uma das mais antigas e universais sendo possível encontrá-la desde os tempos mais remotos, em culturas tão diversas quanto distantes. Há representações de Oroborus em figuras persas, maias, egípcias, celtas, chinesas, nórdicas, gregas, medievais e hindus. Mesmo apresentando muitas variações de formato, ou ainda sendo usado em conjunto com outros símbolos místicos, o Oroborus sempre manteve um significado singular em todas as culturas em que esteve presente: o infinito, a imortalidade, a eternidade, o renascimento. Por conseguinte, era também associado à regeneração, às fases lunares, à vida após a morte e também à totalidade universal, com seus ciclos transformadores de destruição e reconstrução.

A moda é o Oroborus da sociedade atual. Diferente dos clássicos greco - romanos que cultuavam deuses do Olimpo, o homem moderno cultua a moda como se ela representasse uma força mais onipotente, onisciente e onipresente do que os próprios deuses. E a representação física deste novo deus moderno só poderia se fazer através da imagem de Oroborus. Destruindo-se e renovando-se, ela representa o infinito ciclo de superação e criação com que o homem lida com o que há de mais natural é essencial: cobrir o corpo.

De acordo com o dicionário moda é uma forma passageira e facilmente mutável de se comportar e, sobretudo, de se vestir e pentear. Sendo assim, seria moda tudo aquilo que é usado durante um tempo descartável e que, consequentemente, é abandonado e substituído por algo que – para muitos – torna-se evidentemente melhor.
Jaqueta com ombreiras gigantescas; calça boca de sino; calça jeans com nesga; sapato cavalo de aço; franja Chitãozinho e Xororó; fita com laços enormes para usar no cabelo; brincos de bola coloridíssimos de pressão; esmalte rosa opaco... Uma foto antiga pode revelar com clareza o que é a moda de um tempo e o que é o tempo para a moda. E a moda de um tempo também pode ser definida como os valores, as crenças, os medos e os sonhos de uma época.

Ainda que um brechó pretenda reviver e renovar peças antigas, os valores representados por elas acabam por se perder com o tempo. Assim, ontem, um perfume Channel nº 5, por exemplo, que era referencial de uma minoria privilegiada, hoje pode ser adquirido por mais pessoas, por preço mais acessível e já sem a sofisticação e o fetichismo com que era consumido.

É o Oroborus com seus ciclos transformadores de destruição e reconstrução, num constante movimento de superação das próprias regras e expectativas. A moda vai criando normas e destruindo-as, impondo costumes e renovando-os. As ombreiras gigantes retornam com traços futuristas; a calça boca de sino reaparece como ícone fashion do passado nas passarelas do presente; a nesga invade as calças, blusa e saias; o cavalo de aço é batizado com outro nome e ganha novas cores; a franja surge repaginada e tornando as mulheres todas iguais (novamente); os laços enormes espalham-se por todo o vestuário; os brincos de bola descolorem e proliferam nas vitrines e o esmalte rosa opaco ganha embalagens mais bonitas. E as pessoas que pensam estar usando novas roupas se vestem de roupas novas sem perder o vínculo com o passado. Os valores, as crenças, os medos e os sonhos são outros, mas a moda que cobre os corpos é a mesma.

O Olimpo se expande e pode ser Paris, Milão ou New York, os altares de pedra são substituídos por vitrines de vidro e manequins de plástico, a adoração pode ser realizada nas platéias dos desfiles... A divindade moderna vai reabastecendo sua força a cada estação, à cata de superar-se e surpreender-nos, a custa de uma constante magia que se torna ultrapassada e descartável. Tal como Oroborus a moda realizada seu infinito ciclo e o homem, sedento e dependente, consome-se.

Juliana Gervason,
Professora de Literatura. Trabalha nos Colégios Granbery e Apogeu. Formada em Letras - UFJF. Especialista em Estudos Literários - UFJF. Mestre em Literatura Brasileira - CESJF. E, atualmente, cursa Doutorado em Estudos Literários, também pela UFJF, atuando na área de Teopoética e pesquisando a obra de Clarice Lispector. Além disso, está cursando Design de Moda na Estácio de Sá. Literatura é seu objeto de estudo, de trabalho e de lazer! www.fiztrinta.blogspot.com


Extraido de http://www.ecaderno.com/Colunas/1036/Juliana%20Gervason/Moda:-a-divindade-moderna

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Carta aberta a população do Estado do Rio de Janeiro – Vista a camisa da Educação!

Nós, professores servidores do Estado do Rio de Janeiro, escrevemos esta carta aberta à população do Rio de Janeiro para mostrar aquilo que realmente envolve a questão a incorporação da gratificação chamada Nova Escola e a diminuição do nosso plano de carreira.

A princípio, não foi dito o valor do salário do professor estadual, que é de apenas R$ 607,26. A população deve imaginar que recebemos alguma ajuda extra, como vale transporte, vale refeição, que qualquer empresa é obrigada a pagar a seu funcionário. Porém, não é isso o que acontece: não recebemos estes benefícios que são direitos de todo o trabalhador e ainda temos o desconto previdenciário de 11%, recebendo um salário líquido de aproximadamente R$ 540,00.

O Governo faz propagandas na televisão dizendo que deu laptops para todo professor, mas na verdade, estes laptops foram adquiridos pelo sistema de comodato, ou seja, estes equipamentos são emprestados pelo governo que, quando bem entender, pode pedir os mesmos de volta. Atualmente, observamos a climatização das salas de aula, onde o Governo aluga os aparelhos e ainda terá um consumo absurdo de energia elétrica, gerando consumo de energia bastante elevado.

A incorporação do Nova Escola se dará até 2015, em 7 parcelas. O governador já se considera reeleito. Existem casos de professores que receberão, no ano que vem, segundo este projeto, um aumento de R$ 2,47! Isso mesmo, talvez não dê para pagar uma passagem com o valor deste aumento em 2010. Um outro ponto é o grande número de pedidos de exoneração de professores, estima-se que seja aproximadamente 30 por dia! Não existem condições de trabalho e isso nos incomoda. Contudo, o que mais nos deixa indignados, é a carta compromisso enviada aos nossos lares onde o mesmo governador empenha sua palavra e agora se esquece de tudo aquilo que prometeu. As promessas são:

Promessa 1- Reposição das perdas dos últimos 10 anos.
Resultado- Reajuste de 4% e mais 8% de uma perda de mais de 70%.
Promessa 2- Manutenção do atual plano de carreira e inclusão dos professores de 40h.
Resultado- Não só manteve o professor 40h de fora do plano como diminuiu as diferenças entre níveis de 12% para 7,5%.
Promessa 3- Fim da política da gratificação Nova Escola e incorporação do valor da gratificação ao piso salarial.

Resultado- Esqueceu de avisar que seria em 7 anos e sem reposição da inflação.
Promessa 4- "A secretaria de Estado de Educação do meu governo terá como titular pessoa com histórico na área de educação e vínculos com o magistério."
Resultado- A atual titular da pasta é da área de computação, burocrata sem passagem pelo magistério.
Não somos ouvidos, e ainda vemos a imprensa nos virar as costas e distorcer a situação real. Somos pais e mães de família, que fizeram um curso superior, na esperança de um futuro melhor.
Contamos com a compreensão e a colaboração da população do Estado do Rio de Janeiro.

Vista a camisa da Educação, você pode não ser professor, seu filho e sua família podem não precisar da Educação Pública, mas a nossa sociedade só vai melhorar com Educação Pública de qualidade Faça a sua parte, essa será uma verdadeira mudança na história da Educação no Estado do Rio de Janeiro, porém precisamos adequar a verdadeira realidade do magistério Estadual.

Mande para os seus contatos e vamos mostrar a nossa força!!!!!!!

Agradecemos imensamente a atenção
Professores do Estado do Rio de Janeiro

Em 2010


Atenção políticos, somos 165 mil professores do estado do RJ. É crucial a nossa mobilização para barrarmos mais esse ataque aos nossos direitos e chamar a atenção da população do estado do Rio de Janeiro para a calamidade em que se encontram direitos sociais básicos como educação, segurança e saúde. Nós somos eleitores, formamos eleitores e temos memória.

Depois de colocar a tropa de choque para combater professores armados com sonhos e palavras no dia 8 de setembro de 2009, espero que Sérgio Cabral tenha sepultado suas esperanças de se reeleger.

Essas fotos e vídeos estão circulando pelo mundo todo, mostrando que na cidade onde se sediará uma Copa do Mundo e postula uma Olimpíada, o poder público trata a educação na base da violência. Game over para Cabral.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O descaso do governo do RJ com a educação!


Alguns sabem que eu sou professora de Português e trabalho no estado do rj, por isso estou envolvida até o pescoço em uma mobilização pela internet e que me segue no http://twitter.com/anagabigabriela já deve ter percebido...

Em 23 de setembro de 2006, o então candidato ao governo do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, enviou uma carta aos professores do Estado comprometendo-se com uma série de mudanças visando melhorar o sistema de ensino estadual e valorizar os profissionais de educação.

Dentre as principais promessas feitas destacaram-se a incorporação de gratificação do Nova Escola aos salários dos professores (gratificação que na prática cria desigualdades salariais entre os profissionais), reposição salarial devido ao arrocho de mais de 10 anos, descongelamento do plano de carreira dos profissionais administrativos e o fim das terceirizações e contratos.


Após quase três anos de governo, o possível príncipe virou sapo. Sérgio Cabral e a Secretária de Educação, Tereza Porto, praticam um verdadeiro desmonte na educação estadual, camuflando tal ação na distribuição de laptops para uma parcela dos professores. Laptops, vale lembrar, comprados em licitações suspeitas.

A incorporação da gratificação do Nova Escola foi anunciado para o dia 18 de agosto. Entretanto, o governo pretende parcelar a incorporação em 6 anos, o que na pratica arrochará mais o salário dos professores. Atualmente recebemos 607,00 r$ brutos, e em 2015 o salário chegaria a 1045,00 r$.

Ora, não é preciso ser mestre em economia para entendermos que na prática haverá perda do poder de compra devido a inflação prevista para o período. O plano de carreira do magistério foi reduzido
de 12% para 7,5% a cada 5 anos e as contratações temporárias de professores persistem mesmo com a enorme fila de concursados aprovados nos últimos anos.

Na prática, o governo do Estado do Rio de Janeiro está convidando os professores e funcionários administrativos a pedirem exoneração, tornando cada vez mais precária a educação no Estado, cujo principal resultado social será o abandono de estudantes, que não podem pagar por boas escolas, à ignorância e à miséria, cuja combinação resulta no aumento da criminalidade.

No curto prazo, esse descaso afeta apenas a vida dos professores, mas no médio prazo afetará a vida de toda a população, mesmo daquelas que não tem filhos matriculados nas escolas estaduais.
Nós, professores do Estado, estamos praticamente sozinhos nesta luta, os jornais dão pouco espaço para a realidade educacional do Estado, e muitos ainda mentem na primeira capa, fazendo propaganda extra-oficial desse governo.

Portanto, não acreditem nas mentiras desse governo com relação à educação, saúde e segurança pública em propagandas pagas na televisão e rádio, a verdade é outra, e não é muito boa para nós. Antes de votarem na permanência desse governo nas próximas eleições, antes de votarem no Sérgio Cabral ou em deputados “amigos” do governo, procurem se informar acerca das promessas feitas na campanha anterior, e nas ações realmente praticadas.

Na próxima campanha provavelmente Sérgio Cabral glorificará sua amizade com o presidente Lula, como forma de trazer mais investimentos e dinheiro para o Estado do Rio de Janeiro. Mas lembrem-se, os amigos de Lula são muitos, inclusive o José Sarney...


Portanto, atenção em 2010!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Elza, a Garota

Minhas férias foram prolongadas devido aos casos de gripe suína, mas este não é o meu único motivo de sumiço da net, hehe!
Estou passando para indicar uma sugestão de leitura para vocês. Um livro maravilhoso do Grupo Ediouro que me fez companhia durante meus dias de descanso... É o livro Elza, a garota: a história da jovem comunista que o partido matou , lançado pela Editora Nova Fronteira.


Nas palavras do autor, Sérgio Rodrigues, a notícia do caso Elza é velha, mas recalcadíssima. Mais do que fechar o foco no crime em si, o que lhe interessou durante a escrita do livro foi investigar as décadas de silêncio sobre o caso e o que esse silêncio, paradoxalmente, nos diz sobre quem somos.

O diferencial do livro para mim é o fato de ser um livro-reportagem, mesclando realidade, jornalismo e ficção, algo pouco usual na literatura brasileira contemporânea, né?! Dessa forma, saiu do estritamente factual, chegando até a ser classificado no prefácio escrito por Zuenir Ventura de "romance histórico que mistura de forma pouco convencional pesquisa jornalística, ensaio e, claro, ficção."

Pode até ser que o Che Guevara esteja se revirando no túmulo achando que o livro é obra de um bando de burguês querendo detonar o comunismo; mas quem ler o livro poderá perceber que não há proseletismo e guerrinha entre direita/esquerda. A proposta do autor é explicar este crime ocorrido em março de 1936, durante a fracassada intentona comunista, durante o governo de Getúlio Vargas. O que está claro para mim é que assim como a mulher de Luis Carlos Prestes, Olga Benário, sofreu nas mãos dos nazistas, a mulher de Miranda, uma menina de 16 anos chamada Elvira Cupello Calônio (de codinome Elza) foi estrangulada com uma cordinha de varal a mando do PCB devido a uma suspeita injusta de traição. Olga Benário era militante. Elza era uma garota analfabeta do interior, que não entendia nada de política (apesar de seu irmão ser um militante comunista) e ela só se enfiou nessa história porque se envolveu com Miranda, o secretário geral do PCB.

Quando Miranda e Elza foram presos depois do fracasso do golpe, a polícia percebeu que ela não acrescentaria nada ao depoimento dele e a soltou por ser menor. O problema é que logo depois outros membros do PCB foram presos e as suspeitas recaíram sobre ela. Julgada pelo Tribunal Vermelho a mando de Luis Carlos Prestes ela foi condenada à morte pelos "companheiros". Assim, Getúlio Vargas chegou a prender 17 mil suspeitos, incluindo pessoas de Moscou que estavam envolvidas na parada e foi Elza quem pagou o pato, né?!
Para quem ainda não comprou o livro e quer saber um pouco mais antes de adquiri-lo, este site aqui narra em detalhes a prisão.





Segue a SINOPSE do livro para vocês:


"Molina é um jornalista que, aos 43 anos, toma a decisão de se dedicar exclusivamente a ser escritor. Na busca por uma história que valha a pena ser contada, ele conhece Xerxes, que lhe narra sua paixão por uma menina chamada Elza, em meio à Intentona Comunista, quando Luís Carlos Prestes quis tomar o poder e foi derrotado. A história de amor, no entanto, jamais foi consumada: Elza foi assassinada por seus companheiros do Partido Comunista. Neste livro surpreendente, o escritor e jornalista Sérgio Rodrigues, combina literatura e reportagem para criar um romance original e envolvente."







Recomendo, viu?!

Boa semana para vocês!