segunda-feira, 20 de agosto de 2007

maturidade

Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisissíma nenhuma. Estamos todos no mesmo barco. Há no ar um certo queixume sem razões muito claras. Converso com pessoas que estão entre os 50 e 60 anos, todas aparentemente bem sucedidas, com profissão, esposa / marido, filhos, netos, saúde, e ainda assim eles trazem dentro de si um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem. De onde vem isso?
Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antônio Cícero, uma música que dizia: “Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento”.
Passamos a nossa vida com esta sensação: a de que algo muito animado esta acontecendo em algum lugar para o qual eu não tenho convite.
É uma das características da imaturidade: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são – ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho. As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias.
Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.
(Desconheço o autor).

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