"Um século... Para uns é muito; para outros não é nada. É o caso de Machado de Assis que, embora este ano complete 100 anos de seu falecimento, é uma criatura eternizada em/por suas obras. É considerado por muitos o maior escritor brasileiro de todos os tempos e, quiçá, um dos maiores escritores do mundo.
Apesar de ter uma saúde frágil, possuía uma mente brilhante. Machado beirou a perfeição: foi cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. Penso que o título de historiador também lhe caberia por retratar um pouco da sociedade brasileira. Sociedade de meados de 1800 até o presente ano de 2008 e ainda outros vindouros. Paixão, traição, segredos, heranças, amor, ódio, amizade, respeito, enfim, temas pertinentes em qualquer época fazem parte suas obras. Além de fazer críticas sutis em suas narrativas de extrema inteligência. Quem nunca se perguntou o que realmente houve entre Capitu e Bentinho? Este é um mistério que paira pelas mentes e inspira grandes estudos e teses. Não só no Brasil, mas também por todo o globo terrestre.
Um escritor que não se limitou a um único tipo de literatura e passou com maestria por todos os gêneros que se propôs a escrever. Assim sendo, tornou-se um ícone de suma importância para a literatura brasileira. Sua produção se iniciou ainda na adolescência e se estendeu até os seus últimos dias numa perspicácia e sutileza incríveis. Usou e abusou de seu domínio sobre as letras e sabia como ninguém usá-las. Tudo construído em orações elaboradas e vocabulário erudito.
Sempre foi um homem a frente de seu tempo. Nota-se pela publicação da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas de um estilo inovador e único na época. Um marco no Realismo brasileiro, um livro extremamente ousado e conceituadíssimo até os dias atuais, seja em leituras acadêmicas, domésticas ou em adaptações para cinema, teatro e televisão.
Suas obras revelam um pouco da visão do autor com relação ao mundo: a introspecção, o humor e o pessimismo com relação à essência do homem estão sempre presentes em seus textos. Além de acrescentar também um pouco de seu gosto pessoal como, por exemplo, o jogo de xadrez que aparece citado em algumas de suas obras.
Uma outra grande obra sua foi a Academia Brasileira de Letras. Foi o primeiro presidente eleito por aclamação, e também seu "Presidente Perpétuo". Possui um merecido espaço reservado no prédio da ABL destinado à sua vida e obra deixando sempre viva sua memória.
2008 é o Ano Nacional Machado de Assis mas, na verdade, esta comemoração deveria se extender. É público e notório que Machado influencia escritores até hoje por sua maneira única e inteligente de escrever. Devemos incentivar a leitura e resgatar autores como nosso homenageado que tem muito a nos ensinar no campo literário e pessoal.
São muitas as questões que envolvem Machado e me pergunto como ele se comportaria se vivesse na atualidade ou então se pudesse voltar a viver. Mas a principal questão que me ocorre no momento se refere ao campo pessoal e diz respeito ao racismo. Será que ele seria favorável às quotas para negros nas universidades sendo ele um descendente de escravos? Será que os afro-descendentes realmente precisam dessas quotas? Baseando-se no exemplo de Machado percebe-se que não; cada um, independente da cor da pele, é capaz de construir seu futuro. Para tal basta querer e ter força de vontade. Nada o impediu de se tornar um grande escritor: nem problemas de saúde, financeiros, nem perdas de entes queridos, nada. A genialidade está no interior de cada indivíduo podendo de manifestar em maior ou menor grau. E Machado sempre tentava despertar essa genialidade em seus leitores; há que se notar recorrentes questões sem respostas pré-definidas em sua obras, personagens ambíguos, a retórica do subentendido que faz as pessoas pensarem, discutirem e tentarem encontrar soluções e explicações para tais questões.
Circulam por aí muitas Iaiás, Capitus, Bentinhos, Helenas, Palhas e Sofias. Personagens de ontem, hoje e sempre. Machado sempre será lembrado por suas obras, genialidade e contribuição para a formação da cultura e identidade da literatura brasileira. Seja em simpósios, dissertações, palestras, colóquios, será sempre citado e estudado. Serve também de inspiração para nós, brasileiros, que precisamos valorizar os talentos nacionais. Machado estará sempre atualíssimo por sua reflexão filosófica, conversa com o leitor, o aprofundamento psicológico e temas abordados. Definitivamente é um autor que, a cada ano, década e século consolida ainda mais sua importância."
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