domingo, 30 de dezembro de 2007

Eros, o Amor

A pergunta de hoje é tão velha como a própria humanidade. O que é o Amor? Como encontrar Eros, já sem asas no meio de tantas e tão variadas vestes que nos apresentam as modernas sociedades? A princípio, pareceria que o significado do Amor cresceu até limites isuspeitados, oferecendo cada vez mais possibilidades de expressão. Mas, depois de uma análise, não muito profunda, as coisas se apresentam menos claras.

Podemos chamar de Amor ao vulgar entrechoque de corpos, tão cantado pelos costumes liberais? Ou acaso chamaremos de Amor às frequentes mudanças e intercâmbios que exigem os instintos saciados, fartos, de jovens e menos jovens que já não encontram interesse nem atrativo em nada? É Amor a grande quantidade de aberrações com que se tenta encobrir a carência de autênticos sentimentos, o vazio emocional em uma palavra? Cabem no Amor as relações de um dia, os laços que se desfazem ante o menos inconveniente? E o que dizer do desgaste progressivo que leva do entusiasmo à apatia, e da apatia ao ódio? Pode haver esquecimento e indiferença onde antes houve Amor?

Eros se cala ante minhas perguntas. Só atina em fixar seu olhar em suas asas partidas... E na raiz do que foram suas plumas brilhantes surge uma gota, mescla de sangue e lágrimas sem dono. No espelho da gota se refletem velhas imagens que, ao vê-las, me obrigam outra vez a me perguntar pelo Amor...

Sinto falta desse sentimento poderoso que coloca luz no olhar de quem o leva, e ilumina com a mesma força tudo o que toca. Quero voltar a encontrar o entusiasmo ilimitado dos namorados, que vivem o mundo como se fosse só para eles, que depreciam os obstáculos e se sentem capazes de arremeter contra todos os monstros. Que foi feito do Amor que traz consigo a felicidade, êxtase calado, ânsia de explodir porque o coração se torna pequeno? Onde estão o homem e a mulher que oferecem um ao outro tudo o que têm, sem pedir nada? Onde estão os que sabem perdoar, esperar, confiar, ajudar, compreender, olhar além de corpos que estão destinados a envelhecer? Onde está a gloriosa certeza de haver encontrado o ser que nos faz falta para completar nossa jornada pelo Mundo? Onde está escondida a linguagem sem palavras, mas tão rica e expressiva, dos que compartilham uma mesma ilusão e idênticas esperanças? Onde estão os belos detalhes, o afã de beleza, a homenagem delicada, o engrandecimento sempre renovado do que ama e sabe ser amado? Onde está a paixão romântica que faz do ser humano um deus muito mais poderoso que seus simples instintos? Onde fimaram os amantes que conseguiram o milagre de deter o Tempo, apagar o espaço e espantear até mesmo a morte? Onde encontrar os que têm feito um altar de sua união, de sua entrega, de sua felicidade, de sua sinceridade?

Eros continua sem responder. Mas, sem dúvida, nele se encontra a chave de minhas perguntas. Ele também vai pelo mundo buscando seres aos que inspirar esse sentimento que é sua razão de ser. E pode ser que esses seres estejam muito mais próximos do que ele e eu, com minhas perguntas, suspeitamos. Aqui, ali, e onde coloquemos a vista, pode haver homens e mulheres que, sem atrever-se a confessar, buscam ao Deus do Amor. Porque quando forem muitos os que vivvam nos cumes indescritíveis de tão elevada emoção, Eros recuperará suas asas e voará novamente pelo éter, alentando e protegendo o Amor de todos os que amam.

Délia Steinberg Guzmán - O Herói Cotidiano

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