terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A segundinha

"A segundinha é como água: se molda. A qualquer horário, qualquer ambiente, qualquer humor. Possui também a rara habilidade de se encaixar na vida do homem que ama sem tomar o espaço útil destinado as tralhas dos filhos, ao cachorro, ao trabalho e, claro, à mulher.
Morre de ciúme quando imagina os dois juntos, tranqüilos, no sofá da sala que construíram para passar a vida. Se rói de ódio mas não reclama porque, quando entrou na historia, já sabia quem era a protagonista. Mas segundinha que é segundinha sempre nutre a esperança de que a fulana vá parar em outra peça, com outros atores, e o deixe todo para ela, numa sala sem o peso dos anos. Num sofá só deles.

Segundinha que se preze tem todos os telefones dele, inclusive o da casa, mas não liga em horários importunos. Nada de sábados à noite, almoços de domingos, nem quando o filhinho pega no sono. Tem ótimo semancol e, apesar de querer profundamente implodir aquele casamento, sabe que não é por aí o caminho que os levará a ficar juntos (não sabe nem se existe o tal caminho). Uma das coisas que ele aprecia nela, entre tantas qualidades enumeradas, é esse bom senso que consome o figado dela mais que talagada matinal de cachaça.

Ela se alegra em descobrir seus defeitos, aprender a lidar com eles, não acha-los tão insuportáveis assim. Admira-o, ouve suas narrativas e é tão boba que fica feliz quando nota que os dois já tem algo pra chamar de “história”, mesmo sendo escrita no rodapé, esmagada pelo corpo do texto do assunto principal. A segundinha fica infeliz por não poder andar de mãos dadas na rua, nem apresentá-lo aos seus amigos ou tomar chope na calçada do Supremo numa noite quente de quinta. Então ela segue sua rota, tentando manter o mínimo de sanidade.

Tenta abstrair o clichê da situação e relaxar. Conhece alguém interessante, corre por fora para não ser pega pelo cheiro do outro, o olhar, o corpo,que cismam em morder seu calcanhar. Às vezes até consegue enganar as lembranças e mergulhar num paraíso temporário sem horas contadas, choros incontidos. Assusta-se ao ver um homem em sua cama sem a necessidade de sair correndo. Relembra como isso é aconchegante. Relembra como deseja que alguém durma com ela, acorde com ela. Mas não demora para a realidade escancarar a porta do quarto e deixar claro que aquele ser é tudo o que ela poderia querer, mas não quer.

Ela passa dias, meses, tentando não enxerga-lo em todos os homens que cruzam seu caminho. Uma das coisas que mais entristece a segundinha é poder, e não desejar, ser a primeira na vida de tantos outros. É odiar ser a segundinha na vida de quem é o primeiro. E da forma mais intensa, o único."
(Ailin Aleixo*)


Este post pode até ser encarado como um complemento do post anterior, mas o fato é que a segundinha é o tipo da mulher digna de pena, pois por mais que queira bancar a gostosona, quem sai por cima é sempre a oficial. Mesmo que um dia o marido abandone a esposa e/ou namorada (o que é raro acontecer) ela sempre será lembrada como a que jogou sujo.Não estou querendo justificar ou defender nenhuma das partes, mas o que me dá mais dó é que a traição do homem é puro tesão, motivada muitas vezes por uma bunda saculejante. Já a bobona da mulher tem sempre um motivo oculto, trai muitas vezes por necessidade de atenção, envolvimento...Eu já fiz essa reflexão no blog antes, mas vale a pena pensar até que ponto cada um não é responsável pela dor sentida...
Quem é perdoado uma vez pode errar novamente. Sei que dizem por aí que quem ama perdoa, mas para mim quem se ama não perdoa uma traição nunca, viu?!


OBS: Desculpem a generalização, hehe! Meu mal é esse!




*Autora de 'Mulher Honesta' e 'Só os Idiotas São Felizes'. Foi durante um tempo colunista da Revista Vip e agors escreve para a revista Criativa. É a escritora contemporânea que escreve sobre banalidades que mais gosto. Tem outras citações dela no blog, é só procurar nos marcadores, na lateral direita, logo após a lista dos meus blogs preferidos.
Para quem se interessar conhecer mais textos, eis o blog dela:

http://mulherhonesta.sites.uol.com.br/

6 comentários:

Rosangela A. Santos disse...

Eu particulamente tb tenha pena de mulheres que se ilude nessa fantasia de ser a segundinha", pois no fundo é pura ilusão, não tem realmente amor em uma história assim, se o cara realmente se apaixonou separa logo de vez, se ela realemnte o ama não aceita essa situação.. acho pura ilusão.. e triste quem veve nela.. pois são horas de alegria e dias de tristeza.
Abç.

~ a Juh! disse...

Eu também tenho pena dessas mulheres assim. São submissas e se anulam por causa de um amor que nunca terá futuro. E elas se gabam disso ainda por cima!

E concordo com o que você disse que traição não tem perdão. Por mais que muita gente grite aos quatro cantos "que quem não dá assistência, abre a concorrência" ainda sou a favor de uma conversa pra resolver os problemas ou que termine o relacionamento antes de se envolver com outra(o).

Beeeeeeeeeeijos

LuMello disse...

concordo em gênero, numero e grau. quem se ama não perdoa traição. não tem NADA q justifique.
Beeeeeeijos, Gabi

Cynthia disse...

Mas o maior motivo de eu ter pena das mulheres que são segundinha, é que elas pensam que esses homens as amam mesmo... não se dão conta de que ela só está sendo um objeto de prazer do cara, não se valorizam o tanto quanto deveriam.
E que sempre a "primeirinha" vai ser a primeira em tudo... e claro, a que ele mais vai preservar e manter bem, porém, a traindo.

Na cabeça dos homens traição não é trair. Trair é uma palavra muito forte. Traição na mente deles é variar o gosto... querer experimentar o que ainda não provou.
Pra mulher é mais que isso. Pois sexo e amor estão ligados... então, ela dá valor a essa sua aventura.

Semana passada eu ia escrever um texto sobre isso, mas ai veio o Fenomeno e roubou a cena... hehe.

Beijos.

DEUSA PAGÃ disse...

Éhhhhhh, prefiro mesmo somente as "segundinhas" dos romances que crio....Pois quando elas estão em um lugar de fantasias e irrealidades a história é interessante...Ninguém quer uma "segundinha" dividindo seu amor. Nas novelas e/ou filmes, até que ficam interessantes..tornam as tramas mais apimentadas...
Na vida real, fica tudo muito clichê e sem graça.
Não é nada fácil ser a legítima, imagine a ilegítima. Apesar de as duas serem legais conforme as leis cíveis.
Mas é só isso, nada mais.
Fico com os filmes e romances.
Bjos da Deusa.

Lílian Stein disse...

Não passam de um simples corpo, as segundinhas. Uma pena que em alguns casos (nem tão poucos assim, em minha opinião), elas acabem se transformando em única.
Dignas de pena, de qualquer maneira.